01/09/2011

Mais um Texto exelente!


Teatro

por Marta Vaz a Quarta-feira, 27 de Julho de 2011 às 22:29

Num dia entras numa sala desconhecida, com gente que nunca viste na vida, sentes-te como se nem devesses estar ali, aquele lugar não é (ainda) muito confortável. Depois habituas-te aos espelhos, já olhas nos olhos quando falas, partilhas um bocado de ti. A gente que nunca viste passa a ser o pessoal das quartas-feiras. Já não te sentes tao pequena, ainda que o sejas, sentes que fazes parte de algo. E voltas, todas as semanas. Num dia aprendes a jogar xadrez, noutro só podes olhar para o ecrã do telemóvel quando falas, se bem que os telemóveis devem estar sempre desligados, porque não há pior objecto para nos distrair do que estamos a fazer, e temos de estar concentrados que a estreia está quase aí. Quando te apercebes que vais ter de ficar um ano sem gritos de uma senhora que passa a sua vida a dizer que "se fosse fácil, qualquer um era actor", sentes um vazio dentro de ti. Mas só porque te esqueces que os gritos eram mesmo muito altos, algo que relembras no ano em que voltas, finalmente com mais gente da tua idade, ainda que tivesses aprendido muito com os mais velhos. Voltas a estar em família, como quando estavas num grupo só de raparigas, e a felicidade é notória quando chega a quarta-feira. E lá vens, todas as semanas, às vezes duas vezes em vez de uma só, porque sabes que vais ter ataques de riso e talvez sejam os únicos dessa semana, mais vale aproveitar. Ora, primeiro estavas à espera de ir para o Norte, chamas-te Inês e ficaste presa com umas vinte e tal pessoas porque eram suspeitos de terrorismo e depois já estás a arruinar as declarações de amor de um rapaz, ainda que o faças de uma forma engraçada, afinal todos se riram na plateia. Até pessoal do Norte, da Póvoa de Varzim, a cidade que, para ti, só significa teatro, alegria e outras familias que partilham dos teus gostos. E sem te dares conta, passaram-se mais uns anos. E apercebes-te que estás no ultimo, tudo vai acabar depressa, mas tens de aproveitar, é o que gostas. Entao la andas a carregar com bidons e tubos, tens de destruir a praia, mostrar a dificuldade em andar contra o vento, vais cair, vais-te aleijar. Sobretudo vais enervar-te porque achas que há gritos que sao desnecessarios, ja os ouviste tanta vez, ja chega, queres acabar o ano descansada. Fizeste algo diferente do que te habituaste, não gostaste tanto, mas ei! Deste o teu melhor. E os anos passaram. E terminou. Blackout. As cortinas fecham. Agradeces e até qualquer dia! :)

Para as Teresas e para todos aqueles com quem trabalhei.

Marta Vaz.

Nota: Este texto foi publicado na página do Facebook da Marta e, agora, publicado neste Blogue sem autorização da autora.

Teresa Henriques


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